Thursday, August 30, 2007

A tradição Celta do Norte de Portugal e Galiza

Celebro as festas pagãs e de influência celta, misturando um certo e necessário revivalismo moderno, com uma verdadeira tradição, daqui, destas gentes e lugares. Uma tradição que, por assim dizer, faz parte da minha herança cultural.

Vejamos o exemplo de Beltaine, toda a minha vida fui ao campo no primeiro de Maio apanhar as giestas floridas que, depois, pendurávamos na porta, do lado de fora, assumindo assim que também nós participávamos na regeneração do Cosmos. E isso continua a acontecer um pouco por todo o Norte de Portugal. Na cidade de Braga é não só frequente ver as Maias nas portas, como existem ainda concursos dos Maios. Em 2007, dando continuidade à tradição, a Junta de Freguesia de S. Victor organizou mais uma edição d'Os Maios: "Manteremos em Maio a tradição da iniciativa «Os Maios em S. Victor», um êxito renovado e que se vem repetindo todos os anos. Junto das Escolas iremos promover trabalhos literários e de investigação acerca deste popular tema. Serão dados os passos necessários para repetir a edição de um livro editado à nossa responsabilidade, com textos e fotos dos Maios vencedores, de entre aqueles que foram apresentados à população por Escolas, Estabelecimentos Comerciais e Residentes. Esta é uma das acções que continua a encher de orgulho as gentes de S. Victor." :)

Respeito também integralmente a nossa tradição de comer castanhas no Primeiro de Maio, numa clara associação com a festa complementar de Samhain, que se pensa que está na origem de uma das nossas maiores tradições aqui no Norte: o Magusto de S. Martinho. Vou transcrever um bocadinho de um texto que está na net:
http://boards3.melodysoft.com/app?ID=celtigo&msg=1843&DOC=91
"Mas é no ano de 1582, passada já a Idade Média, quando se produz a mudança no que diz respeito da festividade do 1º de Novembro, sendo nesse ano quando se leva a cabo a reforma do calendario juliano em vigor para outro mais adaptado à época. O Papa Gregório XIII decidiu entre outras cousas que o dia seguinte ao 4 de Outubro de 1582 fosse dia 15 eliminando polo meio dez dias. Os países católicos em plena contra-reforma aceitam imediatamente a mudança enquanto os outros, entre eles a Gram-Bretanha fazem-na efectiva no 1752. Isto traz conseqüências para a evoluçom da festa do 1º de Novembro já que esse 1º de Novembro passou-se a ser o 11 do novo calendario gregoriano, dia que continuou sendo o da celebraçom da festividade tradicional da qual estamos falando e que na Galiza se vinha denominando Magusto com umhas características próprias devido também à própria evoluçom da festa nos territorios da velha Gallaecia dos quais tanto Portugal como a Astúria som também herdeiros e nos que o Magusto ou Maguestu também está presente. Por tanto o dia 1º de Novembro do novo calendario gregoriano corresponderia ao velho 25 de Outubro do velho calendario juliano mas era o dia no que a igreja católica celebrava o dia de Todos os Santos."

Eu sinto a cultura celta cada vez mais viva aqui no Norte, quer no revivalismo cultural daquilo que existe de influência celta nas nossas tradições, quer na própria procura das nossas raízes ancestrais. Em dezembro de 2006, estive num congresso celta em Ponte da Braca, que tinha como objectivo: "o estudo científico da presença da cultura celta na região do Lima Limia, a valorização dos respectivos vestígios e símbolos, o relançamento da riqueza patrimonial material e imaterial de toda esta região". Andreia Martins, uma das conferencistas, disse que Ponte da Barca era celta, apontando como exemplos concretos: "o lugar da Mamoa, em Grovelas, ou ainda a freguesia do Lindoso". Relembrando-nos um ritual cuja origem é profundamente celta: "O carnaval do Lindoso". O Carro do Pai Velho e o Carro da Primavera fazem parte de um cortejo que anualmente se realiza no ínico de Fevereiro para assinalar a chegada da Primavera. É legítimo supor que realmente são ainda vestígios daquilo que alguns chamam agora de Imbolc, mas como uma festa genuína destas gentes... em Trás-os-Montes, eu também sempre celebrei o primeiro de Fevereiro, com um outro nome e num contexto cristão. Mas a verdade é que o piquenique ritual do início de Fevereiro estava lá, imemorial, vindo de outro tempo e doutra civilização... e eu não consigo deixar de sentir uma certa nostalgia ao pensar no santuário no cimo do monte, onde acorriam milhares de peregrinos, repetindo a tradição (mesmo desconhecendo já de onde vinha tal tradição)...

O primeiro de Agosto também é celebrado... Temos a festa celta do Lugnasad, em Bretoña, aqui bem perto, na Galiza. :) As festas existem - e mesmo quando são recriadas, partem sempre de celebrações tradiconais...

Só para acabar: no congresso celta que referi atrás, uma das conferências, dada pelo catedrático Fernando Alonso Romero, surpreendeu-me bastante. Ele referiu a tradição celta da Ibéria não como uma tradição herdada da tradição Irlandesa ou Escocesa, mas como uma tradição que podia muito bem ser original. No sentido em que, ao contrário daquilo que se pensa, a migração cultural pode muito bem ter partido daqui... é um argumento fascinante e um ponto de vista diametralmente oposto daquilo que pensávamos saber. E não deixa de ser interessante ver que também no livro gaelico sobre os conquistadores da Ilha Verde se refere com precisão o percurso de alguns invasores - que vinham da Ibéria!...

Já agora, deixo aqui um texto tirado da wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Celtas :
"As origens dos povos celtas são motivo de controvérsia, sendo classificados alternativamente como arianos ou caucasianos. Esta incerteza deriva da complexidade e diversidade dos povos celtas, que além de englobarem grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias que se verificou a partir do II milénio a.C.. Na Península Ibérica, por exemplo, fundiram-se aos iberos, originando os celtiberos.
Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 por Daniel Bradley, do Trinity College de Dublin, demonstraram que os laços genéticos entre os habitantes de áreas célticas como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha e Cornualha são muito fortes e trouxeram uma novidade desconcertante: a de que, de entre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais próximos destes eram encontrados na Península Ibérica.
Daniel Bradley explicou que sua equipe propunha uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do norooeste europeu teriam saído da costa atlântica da Península Ibérica nos finais da última Idade do Gelo e ocupada as terras recém libertadas da cobertura glacial no noroeste europeu, expandindo-se depois para as áreas continentais mais distantes do mar.
O geneticista Bryan Sykes confirma esta teoria no seu livro "Blood of the Isles" (2006), a partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de Oxford. O estudo analisou amostras de DNA recolhidas de 10.000 voluntários [1] do Reino Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, — escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da Península Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a. C. [2]. Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na Europa Central, mas entre os povos que se refugiaram na Península Ibérica durante a última Idade do Gelo [3]."

[1] Adams, Guy (2006). Celts descended from Spanish fishermen, study finds. The independent.
[2] JohnSton, Ian (2006). We're nearly all Celts under the skin.The Scotsman.
[3] Cookson, Clive (2006). Pedigree chums. Financial Times.

p.s. Já agora, deixo o link para o lugar dos meus sonhos e devaneios: Clareirazinha. :)

12 comments:

Anonymous said...

Ola!

fiquei incantando com esses teus artigos sobre a forte influencia celta no norte de Portugal.
Defender essa cultura (como tam bem souberam o fazer os vizinhos galegos) parece-me crucial...
archeologia, mitologia feita de trasgos, fadas et bruxas, tradicoes, musica com gaitas sao tantos elementos fundadores da nossa identidade celta

Muito bem, muito feliz por te ter lido.

ps: nada de publicidade, mas encontrei um site francês (filho de emigrante minhoto?) que vende camisolas "minho celta" (podes encontrar com google) so para comprender-se que as coisas estao a mudar pelo norte :) :)

Maria said...

Muito obrigada. :)

Sim, eu também acho que devemos defender e preservar a nossa cultura, sobretudo as nossas influências celtas. :)

As t-shirts são muito giras!...

Artista said...

Inegavel a influencia Celta em Portugal. O sangue Celta e um dos varios que percorrem as nossas veias. Atenção no entanto... Portugal não é Celta. Os povos que habitavam a ibéria eram os Iberos.. POVOS INDO-EUROPEUS..

Lisboa insiste em dizer que os Portugueses descendem dos Lusitanos o que é um ENORME DISPARATE. Em primeiro lugar porque portugal nasceu no Norte e este era GALEGO. A Gallaecia esta separada dos Lusitanos em todos os mapas e ate os romanos fizeram esta separaçao. Dentro da Gallaecia havia a Gallaecia BRACARI de Braga e a Lucence de Lugo na Galiza espanhola.

Na GALLAECIA (Asturias até ao Douro) havia (e AINDA HÁ) grande presença Celta e, no ATLAS DOS CELTAS diz-se que foi dái que saiu ITH, Filho de Breogao o grande lider Celta da Gallacia para conquistar a Irlanda.. Mais que isso, o livro das invasoes da Irlanda refere povos do NorOueste Iberico como os invasores que trousseram o Celticismo com eles..

Os lusitanos, no entanto, não eram prorpiamente Celtas.. Foram sim Celtizados pelas tribus que se foram fixando..

O Minho, por outro lado, teve uma presença Celta muito mais intensa e, até numa era Pos-Romana, os refugiados da AQUITAINE da Gaulia vieram se refugiar na Gallaecia...

Outra diferença era que na Lusitanida (entre douro e tejo) favala-se um dialecto proprio enquanto que na Gallaecia fala-se Celtico...

Apesar de todos os Povos de Portugal terem sido Celtizados, a regiao do Porto e Norte de Portugal foi muito mais influenciado. Desta forma explica-se o porque do Folclore e tardiçoes do Minho e Galiza serem muito semelhantes as dos Paises da Liga Celtica.

Hoje em dia, em Portugal, apenas o Minho esta incluido no mapa Inter-celtico. Marca ate presença em reunioes em Bruxelas quanto a assuntos celticos...

Cuidado quando se fala num Portugal Celtico...

Anonymous said...

A influência celta é tão clara em várias partes de Portugal, e essa tem que ser preservada como parte da nossa identidade.
Esta influência ainda se torna mais clara quando observamos o gene dominante em Portugal, que é o r1b Celta.

Viva a PORTUGAL

Rosi said...

Gostei de saber mais alguma oisa sobre os celtas.Tenho família no Norte de PORTUGAL,Braga.Descobri um tio meu que tinha por apelido de família como tio Zé do castrejo ou castreja.Achei muito interessante como esse apelido passou anos e anos e chegou até nossos dias.

Anonymous said...

SOU fã da cultura celta!!!!!

Tenho as raízes hereditárias por parte materna, com origem na parte N da Península Ibérica.

Acho, pelo que vou lendo e pesquisando, que de facto esta cultura é ainda remanescente às outras que se lhe foram sobrepondo.

ou seja, muitos de nós ainda temos alma celta...

jose eugenio said...

Tenho uma questão: aqui no Brasil sete-se as culturas de influencias dos povos que passaram por Portugal e deixaram suas raizes, isso corre o mundo, em São Paulo e tb em algumas outras regiões do sudeste do Brasil , falamos um português com R(Erre)fraco , colocamos a lingua no céu da boca o som é o mesmo do R(erre) no ingles, pode haver alguma semelhaça por causa da cultura Celta ? Isso procede?

Luciana Salem said...

Olá! Com ancestralidade no Minho, venho pela 1@ vez ao norte de Portugal conhecer este lugar tão especial. Gostaria de saber quais são os locais onde a presença celta se faz mais forte. Obrigada!

Anonymous said...

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O geneticista Sykes que faleceu em dezembro passado sugeriu baseado num estudo genético que os celtas se expandiram para norte a partir da Ibéria. As análises genéticas pós codificação do genoma humano realizadas em amostras de ADN antigas mostraram que ele estava errado. Vejam por favor em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Bryan_Sykes

Mas parabéns pois gostei muito do blog.